The Courage of Lassie
Realizador Francisca Manuel
Países Portugal
Duração 50 min
Sinopse
«A Coragem de Lassie» é um filme sobre Ana Jotta ou sobre o seu trabalho? Talvez seja sobre uma espécie de superfície (cujo equivalente material, no filme, é o ecrã que a imagem cinematográfica supõe) onde as duas coisas se entrelaçam suavemente. O filme não quer «aprofundar» muito, não quer «ver muito», seja do atelier, seja da casa, seja da própria Ana Jotta. Há uma distância, e, por seu intermédio, tudo desliza em ambas as superfícies, como um ritornello de Ana Jotta. São estes os efeitos mais sensíveis e onde é inscrita a ética da distância deste filme.
«A Coragem de Lassie» - porquê este título? Talvez por causa da memória, por «Lassie» ser um objecto de imaginação, que vem das histórias e do cinema, como muitos dos objectos de que Ana Jotta se rodeia e pinta; «A Coragem de Lassie» é também o título de uma pintura sua, um quadro cinzento que podemos ver pouco depois do início do filme, contendo apenas essas mesmas palavras, desenhadas ao modo dos títulos dos filmes clássicos, ou então como um letreiro antigo de sala de cinema.
O filme é todo ele animado por uma espécie de dança subtil, quase quieta, a do movimento, da vibração e dos gestos de Ana Jotta. E também por um ritornello composto pela modulação da sua voz e pelos sons fortes da música e das canções, que constituem o plano sonoro enquanto pinta.
No movimento, gerado pela montagem, entre a casa povoada de objectos - que correspondem, também eles, a essa «aceitação das coisas vazias», como ouvimos dizer Gaetan - e o trabalho no atelier, Francisca Manuel devolve-nos uma existência simultaneamente leve e misteriosa (sem angústia) da «vida menor, a trabalhada» - descrição da vida da arte, que a dado momento ouvimos ler a Ana Jotta: «O trabalho é um estado de graça, como a paixão.» O filme mostra isto de modo justo, isto é, sem o exaltar. Aí reside, talvez, a sua coragem.